Tuesday, August 15, 2006

enterrada viva.

a verdade era só uma:
estava sozinha.
menina deslocada. desiludida. angustiada. diria, frustrada.
complexo tumulto emocional.

não sabia bem ao certo, mas provavelmente as coisas começaram a dar errado no dia em que descobriu que a branca de neve foi feliz para sempre.
convivia, de maneira ainda confusa, com seu espírito teatralmente dramático.
humor negro e sarcasmo permeavam sua conduta muitas vezes infantil.
semi - esquizofrênica. via e ouvia coisas que não existiam.
acostumada a ter sua existência ignorada, se arrastava por porões onde a música era ensurdecedora. embriagava sentimentos.
andava aos tropeços. cabeça baixa. tropeçava em suas ilusões.
analisava arte. discutia a complexidade de personagens de filmes que ninguém entendia. lia. lia muito, mas nunca o suficiente.
tentava entender as coisas, mas na verdade, não entendia quase nada.
vivia sufocada por seus pensamentos.
fazia confissões ao seu gato imaginário.
esperava por algum tipo de milagre que sabia que não viria mais.
deslumbrada com possibilidades impossíveis.

um dia, andou até onde seus pés puderam lhe levar. percebeu que nada adiantava. nunca havia se sentido tão perdida, tão sozinha.
não importava onde.

se conformou. se desinteressou.

comprou um buque de rosas antes de passar para sempre a chave na porta de seu quarto.
chorou sua solidão eternamente junto daquelas flores embriagantemente fúnebres.

enterrada viva.

[texto escrito há mais de um ano. talvez um pouco desatualizado, mas ainda muit válido.]

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Gostei do seu blog. E desse texto em especial.
Creio que conheça bem o que é a antropofagia.
Mas não é bem isso que houve comigo ao ler.
Você escreveu, é seu. Mas soou-me como algo pessoal. Talvez um gêmeo bivitelínico de algo que eu pudesse ter escrito, uma gama semelhante de sentimento. Nunca igual. Nunca.

Solidão atroz, hein. Fico em dúvida se desejo ter ou não amnésia a partir do momento em que vislumbrei o significado dessa palavra.

Cuida,
thpridelustwra

9:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

as vezes parece q a dor se repete, uma duas mil vezes.
seu cuida

12:39 PM  

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