Friday, January 27, 2006

lambada.

virou-se na cama. sentiu o estômago embrulhar. 'acho que vou vomitar.' - pensou - 'mas derrepente se eu virasse de lado e tentasse voltar a dor... DROGA, vou vomitar.'
levantou cambaleando, tropeçou em qualquer coisa largada no meio do quarto escuro - talvez um chinelo, talvez o gato. ao entrar no banheiro já foi meio caindo, ajoelhando na frente da privada. levantou a tampa, mas não deu tempo de levantar o assento. na verdade quase não deu tempo de chegar ao banheiro. vomitou só um pouco. nem tinha bebido tanto assim. martini. contini. champanhe. eram raras as oportunidades de beber champanhe. talvez tivesse mesmo exagerado um pouco.
sentiu a garganta queimar com aquele gosto podre. vomitou mais. e como sempre quando vomitava, chorava. na verdade os olhos lacrimejavam, mas a putridez daquela situação; sentada no chão do banheiro com a cara na privada, fazia com que ela realmente quisesse chorar. olhou o vômito. uma pasta meio rosa. então lembrou-se, bebeu e tomou sorvete! sorvete de leite condensado com goiabada. lambada. aos montes. maldito vício por doces. maldito. era ÓBVIO que misturar aquilo com bebida não foi uma boa idéia.
levantou-se. abriu a torneira da pia e deixou correr um pouco da água antes de lavar o rosto e a boca. bochechou. cuspiu. bochechou. cuspiu. bochechou. cuspiu. fiz isso umas mil vezes. como se pudesse tirar tudo de ruim de dentro de si com aquele ato. ainda tinha um gosto podre na boca.
voltou a sentar-se no chão do banheiro, em frente a pia. olhou pro teto. chorou um pouco. nem sabia porque. sentiu que poderia dormir por ali mesmo, então antes que isso acontecesse fez um esforço sobrenatural para levantar-se. ao sair do banheiro esticou o olho para o relógio digital da sala. 4:37 da manhã. voltou pra cama e pensou: 'NADA de sorvete na próxima vez.'

Saturday, January 21, 2006

lágrimas de pôr-do-sol.

entrou em casa. passou pela sala.
'pelo amor de deus não me incomode, meu dia foi horrível.'
bateu a porta do quarto. a cabeça rodava. quase pôde senti-la estralar de tanta dor. encostou do lado de dentro da porta. fitou a janela. pôr-do-sol.chorou. muito. muito mais do que pensava que ainda seria capaz de chorar. soluçava enquanto as pernas fraquejavam. não mais aguentando o peso do próprio corpo, o peso daquelas lágrimas. quando deu por si estava sentada no chão completamente encolhida, chorando sozinha. lágrimas azuis e lilazes, lágrimas cor do pôr-do-sol.nada nem niguém nunca [NUNCA] , aplacava aquele vazio, aquele buraco que carregava no peito. quando descobriu isso tornou-se a pessoa mais desanimada do mundo; e quando se lembrava chorava aquelas lágrimas de pôr-do-sol.

Monday, January 16, 2006

velhos demais.

‘meninos! vocês são novos demais pra isso!’
ouviu uma senhora, com cara de temente a Deus, dizendo enquanto ela e seus amigos com várias garrafas de bebida na mão discutiam alto sobre qual deveriam levar.
ela e os dois meninos caíram na risada. os meninos, desacreditados, tiravam sarro, repetiam o que a senhora havia dito, se inconformavam. ela só ria.
estava com duas garrafas na mão avaliando o custo benefício quanto a preço e nível de alcoolização que as bebidas ofereciam. os menino falavam sem parar. antes que enlouquecesse devolveu aleatoriamente uma garrafa para a prateleira e saiu andando com a outra em direção ao caixa. os meninos a seguiram.

na verdade sentia que estava velha demais pra isso.
mas com certeza depois de 500ml da qualquer coisa que tinha comprado nem se lembraria mais de quantos anos tinha, que dia da semana era ou de todas as coisas que já tinha passado e que hoje pesaram como nunca. muito menos se lembraria de uma velha querendo dar lição de vida no corredor de bebida de um supermercado.
hahaha. francamente...

Friday, January 13, 2006

desejando estar morta.

a maneira como ele encarava os fatos já não fazia mais a menor diferença.
muita coisa podeRIA fazer diferença. muita.
mas a completa perda de sentido de absolutamente TUDO ao redor era... gritante.

ela queria mesmo estar morta.
e ele sabia disso. embora não desse a mínima atenção.

Friday, January 06, 2006

ausências. texto três.

gostaria que houvesse alguma maneira de mostrar a ele o quanto ela se importava sem que isso a diminuísse de alguma forma.

[...]
não havia.

suspirou fundo. olhou-o fixamente fundo nos olhos. passou as costas da mão de leve em seu rosto. sorriu de canto. sentiu o rosto ficar quente, vermelho. desviou o olhar para baixo. engoliu tudo que pensava.
rezou em segredo para que ele entendesse. entendesse que ERA ELE.
ele não entendeu.
em 1 semana não havia nada mais que uma lembrança.