Tuesday, August 29, 2006

nunca, pra sempre, tchau tchau.

e de todos os seus 'pra sempre' ficaram apenas os seus 'tchau tchau'.

e ficaram também: uma aliança e um certificado de garantia. uma foto com dedicatória. dois desenhos. quatro cataventos roxos. um ursinho que diz 'i love you'. uma carta.
uma carta lida. relida. remoida. mastigada.
uma única recebeu das várias que escreveu. uma única que valia por todas.

foi o que restou de 5 meses e meio.
mentira, foi o que restou dos últimos 1 mês e 8 dias.
1 mês e 8 dias para esquecer 5 meses e meio. claro que não estava dando certo, ainda mais com aquelas lembranças que insistiam em saltar da caixa. na verdade elas até ficavam na caixa.
o problema eram as outras coisas.... ah, as outras coisas. as imensuráveis. as pequenas coisas. o pedaço que lhe faltava. podia até ser o pior pedaço. mas ainda sim era um pedaço a menos.

era mais um pedaço a menos.
só mais um.
'só' mais um .
a menos.

'pra que tanta dor?' perguntava a mãe. os amigos. pergunta ela a si mesma. pra que? pra que?
ah, que apenas a deixassem ali com aquela maldita dor de uma vez!
afinal são 1 mês e 8 dias para reconstruir 5 meses e meio.... ou 20 anos e 3 meses... tanto faz.
tanto faz.
apenas tomava uma xícara de chá [vencido e sem gosto] porque a noite era fria. antes fosse vodca.

e para o fantasma que a persegue em todo por do-sol , e principalmente nos lugares que julgava já ter esquecido dizia apenas: 'então tá. tenha uma boa noite. um bom 'trampo' amanhã. uma boa semana. um bom mês. uma boa vida. eu desejo de coração que você seja muito feliz.'

ah... todas as mentiras que já disse julgando ser verdade....
todos os 'nunca', os 'pra sempre' e os 'tchau tchau'....
ah, que apenas a deixassem ali com aquela maldita dor de uma vez!

Tuesday, August 15, 2006

enterrada viva.

a verdade era só uma:
estava sozinha.
menina deslocada. desiludida. angustiada. diria, frustrada.
complexo tumulto emocional.

não sabia bem ao certo, mas provavelmente as coisas começaram a dar errado no dia em que descobriu que a branca de neve foi feliz para sempre.
convivia, de maneira ainda confusa, com seu espírito teatralmente dramático.
humor negro e sarcasmo permeavam sua conduta muitas vezes infantil.
semi - esquizofrênica. via e ouvia coisas que não existiam.
acostumada a ter sua existência ignorada, se arrastava por porões onde a música era ensurdecedora. embriagava sentimentos.
andava aos tropeços. cabeça baixa. tropeçava em suas ilusões.
analisava arte. discutia a complexidade de personagens de filmes que ninguém entendia. lia. lia muito, mas nunca o suficiente.
tentava entender as coisas, mas na verdade, não entendia quase nada.
vivia sufocada por seus pensamentos.
fazia confissões ao seu gato imaginário.
esperava por algum tipo de milagre que sabia que não viria mais.
deslumbrada com possibilidades impossíveis.

um dia, andou até onde seus pés puderam lhe levar. percebeu que nada adiantava. nunca havia se sentido tão perdida, tão sozinha.
não importava onde.

se conformou. se desinteressou.

comprou um buque de rosas antes de passar para sempre a chave na porta de seu quarto.
chorou sua solidão eternamente junto daquelas flores embriagantemente fúnebres.

enterrada viva.

[texto escrito há mais de um ano. talvez um pouco desatualizado, mas ainda muit válido.]