Thursday, August 23, 2007

sob o batente da porta.

virou-se de costas para que ele não pudesse ver as lágrimas que escorriam delicadamente de seus olhos. a cabeça doeu com uma pontada, na tentativa de sequer alterar a respiração no controle do fluxo das verdades que agora chorava. o ar pesou como nunca. e era difícil respirar naquele ambiente carregado de mágoa. respirou fundo e sentiu toda aquela dor preenchendo seu peito. estranho que quando expirou continuou a sentir o peso daquele ar dentro dela. para sempre marcada.
apoiou a mão no batente da porta. a cabeça pendeu para baixo. esperou um minuto mais longo que a eternidade. sempre esperando por alguma coisa que não mais viria. implorou em silêncio para que ele se manifestasse.
sabia que ele estava chocado, mas bastava uma palavra para que ela ficasse. uma maldita palavra. queria que ele gritasse, espernear-se. tudo que ela queria era um pedido dele.
'fica, por favor. não vai embora. eu não consigo mais ficar sem você.'
descascou um pedaço do batente da porta com a unha. como se fosse achar uma resposta, um alívio embaixo da tinta podre. [e marcar de alguma forma aquele lugar amaldiçoado.]
não achou nada. e ele não disse sequer uma palavra.

na rua sentou sob o primeiro batente de porta que encontrou e chorou a valer todas as lágrimas, que durante anos de erros, havia tentado engolir.