Sunday, July 09, 2006

não dito.

desejou que todo o não dito pudesse também ser compreendido.
porque sempre que tinha algo muito importante a dizer, pensava, repensava, remoia, e quando dizia já estava falando as coisas em partes. de modo solto, que as vezes nem fazia sentido para quem ouvia. só pra ela mesma, que já tinha se acostumado e muitas vezes até se conformado com certas idéias.
e o não dito tinha o péssimo costume de ser a parte mais importante.
ele não era dito, mas também não passava em branco. era apenas... mais sutil.
transparecia nas olheiras de noites mal dormidas. na tremedeira não só das mãos, mas como do corpo inteiro. na voz trêmula daquilo que era dito. no rosto inchado de choro. nas próprias lágrimas que muitas vezes não conseguiam ser escondidas. nas pausas de cada respiração. no amparo de um abraço. no desespero de uma partida. nas batidas do coração que aceleram. na cabeça que pesa sobre o pescoço. em todas as coisas que os olhares podem dizer melhor que as palavras. em todo o desespero de um olhar, um pedido de ajuda, de perdão, de cuidado.
na mentira das coisas que dizia. e em toda verdade do não dito.
desejou de todo o coração que o não dito falasse mais alto.
desejou que o não dito pudesse gritar.
gritar nos ouvidos dele. porque ela já estava a ponto de ficar surda.