Tuesday, December 27, 2005

ausências. texto dois.

levantou-se da cama onde estava afundada em meio a travesseiros e edredons. foi até a enorme janela ao lado. os pés pisavam aquele novo conhecido, mas já tão familiar chão frio. quando abriu as pesadas cortinas revelaram-se vasinhos com ‘plantinhas bebês’ como ele havia dito. sorriu um sorriso bobo e voltou o olhar pra ele que dormia profundamente, roncava.
menino tímido, doce, meigo.
amou o no instante que o conheceu na turbulência do metrô. assim como amou as plantinhas quando as viu, assim como amou a camiseta com pasta de dente, a máquina fotográfica e a arte que saia dela pela visão daquele menino, assim como amava aquela ‘casa de mentira’...
o sorriso dele a encantava.
o formato da boca dele quando sorria transformava seu rosto, o iluminava. nunca era um sorriso de boca inteira, ele sorria pela metade, sorria ao contrário, do avesso; sorria pra dentro, sorria pra ele; sorria... só pra ela. era um sorriso que fazia os olhos dele brilharem, e que o deixava todo vermelho quando ela dizia que queria que ele ficasse em São Paulo.
suspirou e desejou aquela vida para sempre...

teve a tal vida desejada por cerca de mais 22 minutos e algumas ligações de celular perdidas semanas depois.

Friday, December 23, 2005

ausências. texto um.

deitou-se encolhidinha na ponta da cama. sentiu os órgãos internos comprimidos de tão pequenina que se tornou. fechou os olhos que se enchiam de lágrimas.
ele, que estava deitado ao lado dela, segurou sua mão, deu-lhe um beijo na testa e sussurrou com todo cuidado: ‘calma. tudo vai dar certo.’
chorando em silêncio, ela esboçou um sorriso sem graça. sua barriga doía de tanto chorar. o corpo estava cansando. exausto.
inclinou-se um pouco mais para frente para abraça-lo com toda força.
tocou apenas o ar. tocou apenas sua imaginação. não havia ninguém ali.

Monday, December 19, 2005

menos a mim mesma.

ele suspirou. olhou para o chão e perguntou para ela:
'o que você sente? o que você sente de verdade?'

[...]

'sinto você. acima de qualquer coisa.
sinto TUDO.
só não sinto a mim mesma.'